Teoricamente eu deveria começar com quem eu sou, mas quem nunca se fez essa pergunta? Ou melhor, quantos têm essa resposta? Prefiro dizer estou pouco a pouco me descobrindo e continuamente mudando, então, se você pretende me conhecer, desista agora ou não me cobre solidez. Poucas coisas na vida são realmente sólidas e tenho minhas dúvidas quanto à beleza disso. Ah sim, eu admiro a beleza (não essa exigida pela sociedade), o belo em sua bruta forma. O laranja do fim da tarde e o rosa do amanhecer, a pureza da dor, os braços e abraços que se entrelaçam na dança do gostar. A poesia de amor; a frase cheia de verdade que ninguém segue; o ritmo do blues na madrugada, o vinho barato e o Bourbon. Tenho lá minhas paixões, que guardo só pros meus, entretanto pra você eu tenho algumas palavras. Elas andavam meio perdidas de mim, fora de uso no dia corrido dos engarrafamentos, acabei me emudecendo perante a vida. De tanto respirar, o concreto me endureceu… A sorte acompanha as crianças, os bêbados e os poetas, é nessa última categoria que tenho me encaixado. No começo de tudo eram meus amores num pedaço de papel, as dores dos romances eternos que duram tempo suficiente até a chegada do verão; as confidências da alma aflita de quem tem seus primeiros anos nessa estrada. Aí eu descobri o mundo, a política e a música, meus pensamentos eram mil e não existia jeito de colocar tudo num papel. Agora? São as amoras frescas no quintal de casa, são os laços da irmandade que fiz, é o tempo passando por mim, é o saber que sabe que é melhor calar, é falar da alma com os olhos. Aliás, acho que foram as lágrimas da minha alma que ungiram o caminho de volta e de dentro pra fora ressurgi. Sobre o que eu vou falar? Sobre o que a vida quiser, hoje não domo as palavras como na inocente juventude, hoje sou guiada por elas, me deixo valsar pelo salão dos dias em sua companhia. O que posso lhe garantir é que achei as palavras, aquelas que querem dizer o que não encontramos pra falar.
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