Último dia do ano e um dos clichês que eu mais gosto: a retrospectiva. Pensar em tudo que aconteceu durante os 12 meses passados e refletir sobre tudo que aprendi e tudo que ainda preciso melhorar é a melhor forma de começar o ano. Sem aquelas promessas falidas ou uma lista inalcançável que vai parar no fundo da gaveta, o ano novo merece ser celebrado com uma alma leve, uma mente aberta e um coração que sabe perdoar os outros e, acima de tudo, a si mesmo. Não adianta pedir um ano melhor, se nós não estamos dispostos a mudar. Independente de quem é a frase, acho o ensinamento muito válido: esperar resultados diferentes quando se faz a mesma coisa é burrice. É preciso que haja mudança, movimento, dedicação, envolvimento, para que as coisas aconteçam, do contrário é só mais uma vontade e vontade dá e passa.
Esse é o meu momento de recolhimento, onde eu paro, respiro, penso, relembro… Algumas vezes uso meu bullet journal para ajudar a memória. A intenção é pensar em cada vez que eu caí, chorei, fui má. Ali ninguém está me vendo, não tem julgamento, eu não preciso ser bonita, eu preciso ser sincera. Lembrar as vezes que senti medo, inveja, raiva e lembrar minhas ações diante dessas emoções, será que foram boas? Será que os frutos que colhi dos momentos impulsivos foram bons? Quantas pessoas eu feri? Quantas vezes me feri? Quais energias eu tenho dispersado pelo mundo? O que eu tenho plantado? Quantas vezes eu refreei a minha língua na hora de julgar alguém ou alguma situação? Quantas vezes me pus a disposição do outro? O quanto eu tenho me doado? O quanto eu tenho me respeitado? Não é uma conversa simples e não é sobre as outras pessoas, sou eu e eu. É o momento de me desintoxicar de todos os pensamentos ruins, de todos os comportamentos ruins, de me perdoar, de me aceitar, de me amar.
Eu sou humana. Não sou melhor, nem pior que você. Eu erro e acerto também, mas algumas vezes nós deixamos que a culpa do erro seja maior que o prazer da vitória. Ou deixamos de comemorar e diminuímos nossos feitos para caber na modéstia imposta. Há ainda as vezes que deixamos o ego inflar como um balão só porque estávamos certos. Ou os momentos em que não reconhecemos o erro. Sempre tem alguma coisa que é falha no percurso e reconhecer os padrões de comportamento nas situações é importante no processo de mudança. Não adianta dizer “eu não quero mais ser assim ou fazer isso” se não soubermos identificar os momentos e as motivações que nos levam a agir assim.
É o fim de um ciclo, um ano, a terra milagrosamente rodeou o sol, a uma distância perfeita para que nós pudéssemos existir. Você pode chamar de Deus, Deusa, Deuses, Energia, Ciência ou qualquer outro nome que sua fé permita, pra mim é apenas um milagre que tem se repetido dia após dia me mantendo viva, me dando um novo dia para tentar ser alguém melhor que ontem. Tentar é apenas um gesto de gratidão. O que eu posso mudar? Como eu posso ser alguém melhor? No que eu tenho falhado para com quem está ao meu lado? Quantas correntes eu tenho arrastado do passado até aqui? Quantas feridas eu tenho mantido abertas para provar minha razão? Quantas verdades eu tenho defendido sob apenas um ponto de vista? Quantos medos têm me dominado? Quantas mentiras eu tenho contado sobre mim? Para mim? Em quantas eu tenho acreditado? O que tenho feito com a minha fé? Com a fé em mim? Quem é a pessoa que começou o ano e quem é a pessoa sentada aqui escrevendo esse pequeno texto?
Depois de fechar meus olhos e passar longos minutos refletindo é chegada a hora de desapegar. Sim, errei e não foi pouco. Entendo que sou humana, reconheço meu erro e me perdoo. Se preciso, peço perdão a quem magoei, mas me liberto. Deixo ir o peso da culpa, a sensação de fracasso, a derrota, o ego, o medo, a retórica. Escrevo uma lista daquilo que não quero mais em mim, dos comportamentos que quero mudar, das manias que tornam alguém mesquinha e mimada. O velho papel e lápis. Enquanto escrevo, mentalizo aquelas energias deixando o meu corpo, minha mente, meu coração. Inspiro o ar a minha volta, encho os pulmões das novas energias, deixo o peito aberto para o novo. Agradeço por todo aprendizado, por toda vitória, por cada passo do caminho, por enxergar meus erros. Agradeço por mais uma oportunidade de começar de novo. Como um sinal de mudança, a lista vai parar no fogo. A chama transmuta o papel, o grafite. Tudo vira cinza. Já não existem as sombras que me pesavam os ombros e eu sou grata. O vento leva as cinzas do que já foi um passado, ao mesmo tempo que sopra a brisa do que virá.
Eu me liberto, me limpo, me renovo e me abro para o novo.
Eu desejo de todo meu coração um 2019 cheio de transformações na sua e na minha vida, que possamos ser autoconscientes do nosso caminho e das nossas responsabilidades. Cuidar dos outros, sem deixar de amar e respeitar nossos limites. Reconhecer nossas falhas e não usá-las como desculpa para não sermos melhores. Pensar antes de falar, mais ainda antes de agir. Se colocar no lugar do outro, com a perspectiva do outro, para entendê-lo. Aceitar que somos diferentes e podemos coexistir, mas se o outro te ferir, se afaste. Sua felicidade é apenas sua responsabilidade, ela não deve estar ligada à bens materiais ou a pessoas. Deve vir de dentro e lhe preencher, os demais vêm para somar, não para completar. Que no ano novo você e eu possamos lutar pelo que acreditamos, pelo que queremos, pelo que amamos. Que nenhuma palavra nos desanime, nenhum pensamento nos desestimule, nenhum obstáculo nos detenha. Que sejamos fortes, mas doces. Que sejamos luz, principalmente, dentro de nós.
Já passou o dia 31? O ano já começou? Não se preocupa, sempre é válido fazer uma autoanálise, independente do dia que seja. Se você acredita nas forças dos astros, eu diria para esperar a próxima lua minguante. A energia de reflexão e introspecção é muito forte nesse período e ajuda a nos conectarmos com nossa essência. Acenda um incenso, faça uma meditação, permita que a energia do universo te ajude a encontrar o melhor caminho.
2 Comments
Stephanie Vasques • Não é Berlim
5 de janeiro de 2019 at 01:14Que textãoooo, viu? Adorei demais! Eu sempre faço uma retrospectiva do ano e uso meu BuJo de suporte pra me lembrar das coisas também 😛 hahaha por isso que eu amo esse companheiro! Enfim, te desejo um feliz 2019, que esse ano seja repleto de bons momentos e energias positivas ♥
Com amor,
Steph • Não é Berlim
Lu SáFreire
6 de janeiro de 2019 at 11:54Oie Steph, eu amo o bujo, que ferramente maravilhosa, né?! Obrigada pelo carinho e pela visita!