Depois que você se foi eu só me perguntava quando eu rir de novo. Quando o peso do passado não ia passar de uma tarde chuvosa. Porque eu queria me sentir leve de novo. Isso era o mais importante, poder flutuar nos meus sonhos de novo. Saltar entre as nuvens, porque o chão nunca foi forte o suficiente para me prender. Eu queria voar. Sorrir. Ter os olhos verdes de esperança de que tudo pode ser diferente, de que para tudo há uma solução, que nada é tão grande que não possa ser moldado. Queria me sentir de novo, sentir a brisa da manhã tocar a pele e sorrir para um novo dia. Só queria poder apertar o botão para acelerar o tempo, como aquele filme com o seu ator preferido. Eu não queria mais entender ou explicar nada, apenas sorrir.
O sol saiu junto com a primavera, as flores coloriram o meu caminho distraíam a minha mente. Eu ouvia o barulho a minha volta e até reconhecia os amigos. Balançava a cabeça em sinal de concordância quando os via gargalhando entre uma aula e outra. Eu só queria rir como eles. Enquanto não conseguia, apenas seguia empurrada pela vida, como os jogos antigos de vídeo-game. E como tudo no corpo humano é prática, comecei a andar sozinha e gostei da minha companhia. O silêncio foi cedendo a vez para a música e elas já não contavam a nossa história. Decidi terminar de ler aquele livro que estava na estante a meses. Mudei algumas coisas de lugar. Mudei alguns lugares. Ainda não era eu, mas já não era mais você em mim.
Comecei uma nova história, retomei os esboços antigos. Criei novos alvos e hábitos. Experimentei café sem açúcar e gostei. Comprei sapatos novos, escolhi uma nova tatuagem e reciclei velhas canções. Liguei para alguns amigos, conversamos e lembrei porque os amo. Retomei a ideia de conhecer a Índia, sem desistir da Itália. Desliguei o celular e pus os pés na grama. Vi o sol se por, a lua ficar cheia. O tempo estava passando. E eu esquecendo dele.
Discuti política, defendi meus pontos, troquei algumas ideias. Pensei na faculdade, senti orgulho do que faço. Fiz minhas primeiras entrevistas, editei um vídeo e já tenho textos atrasados. Conversei por horas sobre assuntos importantes e outros não tanto assim. Anotei novos filmes para ver. Alguns novos títulos de livro foram parar naquela lista que não pára de crescer. Finalmente vou passear naquele parque que tanto lhe falei. Tô seguindo a vida, sempre em frente como diz a canção, foi quando me dei conta que já estou sorrindo.
4 Comments
Suzane Guedes
15 de outubro de 2016 at 22:43Texto incrível, como todos os outros. Tudo de mais lindo na sua vida, Lu!!
Suzi Gomes
20 de outubro de 2016 at 00:23Olá, conheci seu blog agora, amei! Achei lindo esse texto, parabéns pelo talento de por as palavras e sentimentos de forma tão bonita. Acontece exatamente assim, acho que após se dedicar tanto ao outro, vindo o fim, a gente passa a se cuidar mais, fazer coisas que por algum motivo estavam esquecidas.A vida tem que seguir… bjos !
http://www.somandoconhecimento.com
Anderson Reis
2 de novembro de 2016 at 09:20A substituição é uma terapia incrível e amadurecer é substituir coisas velhas por novas, por reciclar as antigas temperando com a contemporaneidade. Nada e ninguém é insubstituível no plano físico/ humano. Somente Deus o é.
Ciana Andrade
18 de fevereiro de 2017 at 10:35Acho que a gente se renova, se descobre, se reinventa.Separações, dores e mudanças sempre geram outras mudanças, algumas sutis e outras nem tanto. Belo texto!
bjs
http://www.simplesmenteciana.com