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Relacionamento Textos

Decepcionada com os relacionamentos da vida adulta

9 de novembro de 2018

Nunca tive a síndrome do Peter Pan, desde de pequena eu queria crescer e ser adulta. Trabalhar. Viajar. Ter compromissos, relacionamentos, não precisar pedir para ter um cachorro, nem para levar uma amiga em casa. Daí eu cresci e muitas coisas eram exatamente como eu havia imaginado, algumas outras eram “fake news”, mas já era de se esperar. Agora, teve uma que me pegou desprevenida, a forma como a amizade se torna algo tão diferente. Chego a acreditar que nem devia ter o mesmo nome. O relacionamento entre as pessoas se modifica e tem sido muito difícil me adaptar.

Não que eu fosse a rainha do camarote na adolescência, mas eu tinha amigas com as quais eu sabia que podia contar. A gente entrava na briga com Deus e o mundo todo se fosse preciso. Comia brigadeiro na panela quando o coração de alguém estava quebrado ou quando tinha fofoca ou só pra jogar buraco num sábado à tarde. A gente sabia quando tudo estava errado só pelo bom dia. A gente também discordava e dava sermão e falava na cara, às até gritava um pouco, fazia uma cena sabe como é adolescente, até tudo terminar com choro, abraço e um carinho que tocava a alma. Obviamente crescemos, ou não estaria aqui contando da minha descrença no marivilhos mundo dos relacionamentos adultos.

Obrigações, planos, distância, tudo nos fez caminhar por estradas distintas. Mantemos o contato enquanto deu, mas aos poucos, uma a uma e nenhum sobrou. Okay, as pessoas são passageiras mesmo, foi um tempo, um tempo bom que teve seu fim. Agora virão novas pessoas, novos aprendizados, novas histórias. Vieram sim, não posso reclamar, até poque adulto já não precisa de autorização para se divertir e como eu me diverti. Só que cada vez mais rápido as pessoas entravam e saiam da minha vida, cada vez com menos cerimônia que a anterior.

Lá estava eu achando que encontrei aquela amiga para tomar um café com bolo daqui a 20 anos na cozinha, trocando as histórias dos filhos, reclamando da padaria de esquina, ou marcando aquela viagem de férias em família, quando esse relacionamento não chega nem no verão. São relações muito rasas para um coração muito intenso. No fim, termino de alma nua, exposta, machucada, fraca. Os sentimentos tornaram-se um souvenir no jogo das relações sociais. Tento aquietar essa saudade no peito.

Em que momento essas chaves foram viradas? Transbordamos de consciência social, de justiça, de defesa aos minoritários e esquecemos de ser verdade todo dia. Ali, nas pequenas relações humanas. O simples fato de se importar, de dar em troca o que recebe, de ir além do social. Talvez eu me importe demais e o erro está aí ou estão ocupados para ver que os laços estão cada vez mais frouxos.

   Me sinto tola, quase infantil, como se fosse possível voltar no tempo em que o mais importante era aquela hora na rua com os amigos, o passeio de bike, o jogo de futebol, a roda de violão. Será que eu tô pedindo muito? As pessoas já tem tanto com o que se preocupar, como vão dar conta da vida alheia? Mas como vamos dividir aquela preocupação ou aquela felicidade? Por quem vamos torcer? Quem vai cruzar a cidade só para gente ter um colo onde chorar? Se dividir não fica mais leve pra todo mundo? Quem vai ligar para dar as boas novas?

Eu nem sei se você também sente essa falta, mas precisava contar que estou decepcionada. A amizade dos adultos é um saco. O que os une é tão superficial que facilmente se desfaz. Ou pode ser só o meu romantismo querendo sempre mais. Por agora, vou me resguardar ao direito de achar que estou certa, mas aguardo ansiosa a hora de pedir desculpas. Me recolho com os frangalhos do meu coração para lamber minhas feridas e deixar o tempo correr.

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14 Comments

  • Reply
    Bárbara Amorim
    10 de novembro de 2018 at 01:07

    Amei! Achei bem sincero, e um retrato de muito das relações que vivemos (e desvivemos) cada vez mais. Parabéns pela sensibilidade! <3

    • Reply
      Lu SáFreire
      18 de dezembro de 2018 at 23:04

      Vc sempre sendo uma linda!!!
      O texto é bem o que sinto mesmo e tbm é a esperança de tentar fazer o mundo ver que não está tão bacana assim!
      <3

  • Reply
    Tamara Melo
    10 de novembro de 2018 at 20:29

    Nossa, me sinto exatamente como você, um peixe fora d’água perdido em meio a relações tão rasas. Foram tantas baixas e decepções nas amizades nos últimos tempos, que sinto que estou com um certo medo de conhecer gente nova. Tudo tão superficial, todos tão conectados e tão distantes ao mesmo tempo… Como foi que chegamos a isso?
    Parabéns pelo texto! 🙂

    • Reply
      Lu SáFreire
      18 de dezembro de 2018 at 23:03

      Oie Tam, não sei tbm como chegamos, aliás, estou lendo uns textos bem legais sobre isso, espero que logo role por aqui algumas referencias dessas ideias novas que ando lendo e espero que vc tbm se identifique!
      Bjoks

  • Reply
    Tanara
    23 de novembro de 2018 at 17:40

    Cara, como eu te entendo! Acabei de voltar ao mundo blogueiro e já achei esse achado que é o teu blog! Nossa, eu tenho vivído essa fase. Estou com 27 anos e as amizades que trouxe comigo da infância é um total de duas e hoje, criar vínculos duradouros, pra mim já virou utopia. É bem complicado mas acho que uma boa alternativa é aproveitar intensamente o momento que você tem com as pessoas que assam pela tua vida sem se prender se aquilo será “eterno” ou não. Praticar o carpe diem mesmo,sabe?
    Adorei teu cantinho! Espero que visite e siga o meu, caso gosste!
    Abraço!

    • Reply
      Lu SáFreire
      18 de dezembro de 2018 at 23:01

      Oie Ta!
      Que bom que gostou! Fico feliz de verdade, aqui eu partilho um pouquinho do que eu penso e do que sinto!
      Vou te visitar com toda certeza.
      <3

  • Reply
    Paula Musique
    16 de janeiro de 2019 at 12:02

    Quando li o título tive que vir neste post tb! hehehe…
    Fiquei até emocionada quando li este texto! Das minhas super hiper amigas de anos atrás, nenhuma ficou. Até damos oi, contamos umas coisinhas aqui e ali pelo whats, mas é só. E qdo tínhamos 15 anos dizíamos que iríamos envelhecer juntas, tomar chá da tarde juntas, iríamos torcer para nossos filhos se casarem e sermos uma grande família… Coisas do gênero… Mas o tempo mudou isso. E fazer amizades profundas como antes parece tão difícil. Dizem que as melhores amizades são aquelas feitas na infância e adolescência. Não queria que isto fosse verdade. Queria que mais gente desse valor a amizade…
    Entendo seu sentimento.
    x

    • Reply
      Lu SáFreire
      16 de janeiro de 2019 at 15:02

      Paulinha é isso, exatamente isso. Nossa… queria que fosse diferente. Me sinto só num mundo tão conectado.
      😡

  • Reply
    amandafsoldi
    16 de janeiro de 2019 at 14:11

    Entendo exatamente esse sentimento. Logo que mudei de cidade a pior parte foi ficar longe dos amigos e claro que ainda nos falamos, mas não é mesma coisa. Mas com o tempo fui aceitando que quem vai ficar fica e que é passageiro vai embora mesmo. É como se fosse uma peneira natural da vida e hoje estou mais conformada dessa realidade. Fico saudosista dos momentos vividos, mas tento não ficar me cobrando demais pra manter amizades que não fazem sentido mais.

    • Reply
      Lu SáFreire
      16 de janeiro de 2019 at 14:56

      Sei como é Amandinha, já morei em outra cidade tbm, passei por isso. No início eu pensava como vc, nessa ideia de peneira, hoje acredito mais que todos sejam passageiros, o que muda é o tempo de permanência, mas todos partem. Sei lá… rsrsr
      Obrigada pela visita!

  • Reply
    Luly
    17 de janeiro de 2019 at 21:07

    Eu demorei muito tempo, e acho que ainda estou em fase de aceitar, que as pessoas são passageiras. Não descartáveis, claro que não. Mas vão e vem, né… É triste, muito, mas inevitável.
    Porém pra mim foi muito o contrário que pra você. Eu não queria ser adulta nunca, mas quando chegou amei e agora quero “adultar” cada vez mais… Além disso não tinha amigos na adolescência, ou tinha alguns pouco presentes na minha vida, e agora tenho vários e intensos. Por esse motivo minha relações da vida adulta surpreenderam positivamente, e não o contrário…

    • Reply
      Lu SáFreire
      17 de janeiro de 2019 at 21:25

      Que bom Luly, de verdade! Isso é muito bom!
      Espero de coração que suas relações sejam cada vez mais intensas e duradouras!
      Obrigada pela visita.

  • Reply
    Gislaine Motti
    19 de janeiro de 2019 at 14:33

    O seu post basicamente colocou em palavras o que eu vinha sentindo a tanto tempo e nunca fui capaz de… expressar, sabe? Quando faltam palavras para entender de fato o que se passa. Também sempre me incomodou o quanto as relações se tornam efêmeras e, o que dói mais ainda, é saber que eu mesma contribuo muito para esse afastamento. Nunca fui do tipo de pessoa que conseguia se abrir – e acho que talvez tenha sido eu a decepcionar alguém nesse sentido.

    • Reply
      Lu SáFreire
      28 de janeiro de 2019 at 15:44

      Gis, é muito maduro e sincero vc reconhecer isso. Também acho que em alguma esfera eu também contribuo para a liquidez dessas relações. Estou aprendendo a cuidar mais das pessoas.
      Beijos e obrigada pela visita!

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